
A Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlentejo) acolhe a apresentação do livro "Natureza de Poesia" da autoria de António Bagão Félix e Ana Paula Figueira, editado por Blue Book, que terá lugar no próximo dia 3 de dezembro, pelas 17h00, na galeria de exposições da Casa de Burgos (sede da Direção Regional de Cultura), em Évora.
Uma explicação
Há uns poucos meses, a Ana Paula e eu encontrámo-nos numa rotunda. De palavras, sem semáforos. Ela, com dezoito delicados e sensíveis poemas que havia escrito; eu, com uns apontamentos em prosa, que serviram de apoio a uma participação num colóquio na Universidade do Porto.
Em estimulante troca de ideias, achámos que poderíamos juntar as palavras. A Ana Paula desafiou-me para que, com base nos meus apontamentos, associasse um texto a cada um dos seus poemas. Lembrei-me, então, do que Mia Couto disse, com sageza, sobre a poesia: "é um modo de ler o mundo e escrever nele um outro mundo". Daí, mãos à obra, que é como quem diz ao teclado do computador. Com base nos poemas, escrevi sobre o meu sentir de um outro mundo que também é o mundo: o arbóreo. Convidei uma hipotética árvore e pu-la a testemunhar o seu percurso de existência, entre versos da nossa natureza.
Assim, nasceram dezoito pares "poema-texto", ordenados segundo uma perceptível sequência da vida, nas suas multifacetadas e quase paradoxais abordagens humana, botânica, ética, estética e afectiva. Por outras palavras, lançámos uma sementeira onde germinassem palavras de respostas a pontos de interrogação, numa conjugação entre a realidade ficcionada e a ficção realizada.
Achámos que este conjunto de uma poesia humana e de uma prosa botânica poderia ser interessante, por via de uma interacção entre nós e a natureza de que também fazemos parte, ou seja, da nossa "casa comum". Procurámos fazê-lo com abertura ao futuro, delicadeza e sensibilidade, quiçá atrevimento.
Depois, surgiu a ideia de publicar estes textos, ainda que com características editoriais não padronizadas. Às palavras juntámos sensíveis cianotipias de Nuno Abelho. E, assim, chegámos a uma topiária poética, talhando azevinhos de adjectivos, loureiros de verbos, madressilvas de substantivos e hibiscos de cianotipias.
E assim se fez este livrinho, com dezoito entradas e outras tantas janelas. Para o mundo contido no Mundo. Ou, como a Ana Paula diz num dos seus poemas, para "ver o mundo a rodar / vivo, animado, colorido /com significado".
António Bagão Félix em Abril de 2022
António Bagão Félix
Economista. Foi Ministro e Secretário de Estado em vários governos nas áreas das Finanças, Segurança Social e Trabalho. Foi conselheiro de Estado, vice-governador do Banco de Portugal, administrador nos seguros e na banca, presidente da Comissão Justiça e Paz e membro de órgãos sociais de várias ONG e IPSS. Condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
Tem muitas publicações técnicas e vários livros, entre os quais, Do lado de cá ao deus-dará (2002), O cacto e a rosa (2008), O conto do Vigário (sobre texto de Fernando Pessoa) (2011) Trinta árvores em discurso directo (2013), Ética Aplicada à Protecção Social (coord.) (2018), Raízes de vida (2019) e Um dia haverá (2020).
Ana Paula Figueira
Doutorada em Gestão de Empresas, na área específica do Marketing. Concluiu em 2011 o Pós doutoramento no Centro de Estudos Geográficos (IGOT/Universidade de Lisboa). Professora Coordenadora no Instituto Politécnico de Beja. Foi Pró-Presidente para o Planeamento, Marketing e Comunicação no Instituto Politécnico de Beja (2017-2021).
Escreve regularmente artigos de opinião em dois jornais regionais.
Nos últimos anos tem editado, para além de livros técnicos, algum trabalho na área da ficção. É co-autora da obra 13...sem reservas nem tabus (2010), e autora dos livros amor e bondade com cheiro a madressilva (2011), Marketing Territorial - uma nova dimensão do marketing (2011), Caleidoscópio 11211 - colectânea ilustrada de colunas de opinião (2012), Governança Territorial em Rede - medição da notoriedade e avaliação do desempenho de uma parceria interorganizacional (2013), Sem óculos-cor-de-rosa (2013), Caleidoscópio 11212 - colectânea ilustrada de colunas de opinião (2013), Será que amanhã ainda me amas? (2014), Na luz branca de Lisboa (2014), Caleidoscópio 11213 - colectânea ilustrada de colunas de opinião (2015), Caleidoscópio 11214 - colectânea ilustrada de colunas de opinião (2015), Era uma vez... (2015), As voltas do teu coração (2016), Corajosamente (2016), A estrela de Klahan (2017), Raízes de vida (2019), em co-autoria com António Bagão Félix e, Marketing Educacional - uma aplicação ao IPBeja (2021). Estreou-se como letrista em 2021, tendo assinado as letras dos temas que integram o álbum de música popular intitulado Âmbria (Banda Luzazul).
Nuno Abelho
Designer de Moda e Artista Visual.
Formado em Design de Moda/Estilismo industrial (CIVEC, Lisboa) e Licenciado em Artes Plásticas (Universidade de Évora).
Nasceu em Lisboa, mas de raízes alentejanas, reside e trabalha em Elvas, cidade onde funciona o seu atelier desde 2008. Desenvolve coleções de vestuário com a sua própria marca, figurinos e peças à medida. Dando grande importância à preservação de técnicas tradicionais transpostas para a atualidade, as suas criações aliam processos de construção e acabamentos próximos da Alta Costura com o Design Industrial. O seu trabalho como Designer de Moda está representado no Museu Nacional do Traje, em Lisboa.
Como Artista Visual explora e desenvolve os médios da Fotografia, Serigrafia e Cianotipia. Participa regularmente em exposições individuais e coletivas.
A participação no livro Natureza de Poesia, onde contribui com uma série de cianotipias de flores e os retratos dos autores, surgiu do convite de Ana Paula Figueira com quem colaborou em projetos anteriores. A escolha da representação de flores em cianotipia remete para os primórdios desta técnica que remonta ao século XIX, quando se desenvolviam os primeiros processos fotográficos, e se editou um herbário de cianotipias.